terça-feira, 13 de julho de 2010

DONA MARIA JOSÉ, QUE SAUDADE!

Era o primeiro dia de aula do primeiro ano clássico, no Colégio Estadual de Minas Gerais. Entramos na sala e já nos esperava uma professora mais que durona, que ia nos ensinar Português.

Primeiro dia de aula é dia de conversa fiada, né não? Eu sou assim, eu sou assada, a matéria do ano é essa, comprem tal livro etc. Coisa nenhuma! Dona Maria José de Queiroz só disse o seu nome e deu uma aula inteira sobre criação poética. No final, nos mandou criticar a obra de Cecília Meireles.
__ Tragam na próxima aula, valendo nota!
Ninguém tinha a mínima idéia de quem era a fulana e só podia acontecer o esperado:
__ Não achei nada, não senhora.
__ Fiz não senhora.
E ela só repetindo:
__ Cecilia Meireles escreve obras maravilhosas e alguém sabe alguma coisa para me dizer?
Eu gostava da última carteira, fila do meio, mas chegou a minha vez. Tinha feito uma visita à biblioteca pública e achado um único livro de autoria de Cecilia Meireles. Comecei gaguejando:
__ Sobre a-a obra, não a-achei não senhora. Mas achei um livro.
__ Que livro? O que o senhor encontrou?
__ Eu fiz aqui uma interpretação.
E fui lendo sem tirar os olhos do papel amassado...
Hoje em dia não me lembro mais qual foi o livro, mas vou tomar emprestados alguns versos que acho maravilhosos.
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Ela gostou. E com a maior convicção do mundo, determinou:
__ O senhor vai ser um grande crítico literário.
Até hoje as palavras dela ecoam na minha cabeça. Assim como os meus pensamentos daquela hora:
__ Mas será que isso dá dinheiro?

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