quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A BUROCRACIA SUBVERTE A MORAL

Bipolar ou não, eu penso que falta um pouco de indignação à população brasileira. São tantas as coisas que nos prejudicam, que nos incomodam, e quase sempre a nossa reação é de não reagir. Com isso, o que está errado continua errado. Vejamos 2 exemplos:

1. A lei do Ficha Limpa listou 322 candidatos envolvidos em falcatruas. Presume-se que a Lei esteja refletindo o senso comum, aquilo que a sociedade pede para ficar melhor, para ser melhor. Então, 4 juízes do Supremo Tribunal Federal, a corte mais alta do país, votam contra a sua aplicação. Qual será o senso de justiça desses juízes?

2. Agora uma situação bem mais cotidiana. Aluguei um novo imóvel e o contrato é avalizado por uma pessoa amiga. Para que o contrato tenha valor, todas as firmas devem ser reconhecidas, ou seja, não existe confiança pública em nenhum de nós. Quer pior? A Corregedoria do Rio de Janeiro baixou uma instrução que exige que o avalista vá pessoalmente ao cartório onde já tem firma registrada para assinar o contrato na presença do tabelião. É quando, definitivamente, a burocracia subverte a moral. Para o funcionário do cartório não importa se o locador espera aquela assinatura com firma reconhecida para poder registrar o contrato, não importa se o caminhão de mudanças já está contratado, não importa se o locatário precisa das chaves do imóvel, nem mesmo se o avalista está viajando. TEM QUE VIR AQUI PESSOALMENTE! Em outras palavras: o papel é mais importante do que a necessidade humana.

Você concorda?

domingo, 26 de setembro de 2010

O DESLIGADO

Meu pai um dia foi carregar o carro e deixou uma das malas no meio da rua. Diziam que era porque ele era filho único, se acostumou a ter sempre a mãe por perto para ajudar em tudo. Eu também fui filho único durante quase 7 anos. De vez em quando faço uma dessas.

Outro dia peguei um taxi em Copacabana em direção ao Galeão. Meu destino era Belo Horizonte, tinha um casamento que não podia perder. Quando cheguei ao aeroporto, quedê a carteira? Não dava tempo de voltar, não dava tempo de mandar buscar, era ir ou não ir ao casamento. Resolvi ir. Convenci o taxista a voltar a Copacabana e cobrar a conta da minha mulher. E entrei no aeroporto sem nem um documento, sem nem um tostão. Hoje em dia eles estão mais rígidos mas, há alguns meses atrás, não foi tão difícil convencer a moça do check in a me deixar embarcar sem a carteira de identidade.

Cheguei a Bhte. Meu estava me esperando, pedi um dinheirinho emprestado, tudo bem. Restava o casamento: tinha que dirigir até a casa de festas e voltar. Era longe, e carteira de motorista não havia. Fui assim mesmo. Nenhuma blitz.

Na volta, o garoto do check in estranhou:
__ Mas o senhor não tem nenhuma carteira de identidade?
__ Meu filho, a rigor, a rigor, eu não tenho nem eu hoje em dia!

Sei lá o que significava essa frase, mas ele me deixou embarcar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

CONDUTA INSEGURA, TODO CUIDADO É POUCO

Na ânsia de criar, alguns bipolares atingem a genialidade. Na ânsia de superar seus altos e baixos de humor, alguns são levados às drogas e ao álcool. Na ânsia de viver emoções novas, podem entrar na euforia das compras, nos esportes radicais, ou no sexo inseguro.

Em “Temperamento Forte e Bipolaridade” (Ed. Saraiva), o Dr. Diogo Lara cita alguns brasileiros famosos que apresentaram sintomas de bipolaridade e chegaram a se comportar de forma insegura: Elis Regina, Cazuza, Ayrton Senna.

Afinal, o que é preciso para manter o equilíbrio na vida, sem perder o potencial criativo? Vários fatores podem ajudar:

a)- para o equilíbrio do humor, o acompanhamento de um bom psiquiatra e/ou um bom terapeuta são os primeiros passos. Consumir óleo de peixe como suplemento alimentar, embora ainda não seja uma recomendação absolutamente científica, pode ajudar. Dormir bem, fazer exercícios aeróbicos, evitar uma vida excessivamente agitada são práticas importantes.

b)- para a criatividade, estudar, estar atento à vida, à natureza, a tudo que nos cerca. Relacionamos conhecimentos distintos para chegar à originalidade. Quanto mais conhecemos, mais fácil fica. Nem todos seremos gênios, mas podemos ser criativos sem grandes sofrimentos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

E ENTÃO, UM DIA A GENTE MORRE

Quando eu era pequeno, morava perto do cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Quando tinha um enterro de rico, com muitos carros, ia lá ver e fazia de conta que todo aquele choro não me afetava. Depois, perdi minha irmã, outros parentes e amigos. Devo dizer que os velórios e enterros me incomodavam e muito. Tanto é que não vou mais. Não quis ver nem a partida dos meus avós paternos e da minha mãe.

Agora, aos 62 anos, acho que ainda tenho saúde para viver bastante, mas não consigo escapar do pensamento de que vou morrer. Jamais, quando fiquei deprimido, pensei em suicídio, nada disso. Pelo contrário, sempre vivi como se a morte jamais fosse chegar. Era um assunto permanentemente deletado, mas a idade faz lembrar.

Então, eu resolvi o seguinte: vou doar meus órgãos, se estiverem bons. Ou o corpo inteiro, para uma faculdade de medicina, se os órgãos já estiverem meio falidos. Não sei se há ou se não há vida após a morte. Mas o corpo físico, com certeza, perdura um pouco. Então, vamos dar a ele algum proveito. É como livro que vende pouco. Se os direitos autorais não compensam, vamos doar os livros que sobrarem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

MANIA 3

Mais importante do que descrever a mania, é saber porque ela aparece. Mais importante ainda é fazer o diagnóstico, saber que está na hora de procurar o médico.

Algumas vezes já falei que a minha última grande crise foi há mais de 15 anos. É verdade. Mas isso não quer dizer que assim, meio debaixo do pano, algumas crises de euforia não tenham colocado suas manguinhas pra fora. Aprendi a perceber os sinais. Quando eu não percebia, minha mulher estava atenta. E quando a gente vai ao médico logo no começo dos sintomas, fica fácil tratar, não é preciso interromper o trabalho, ninguém percebe.

Eu também já disse: excesso de trabalho, de agitação, falta de sono e/ou falha na administração dos remédios podem desencadear uma crise, pelo menos no meu caso. Algum fator sério de estresse também. É preciso estar sempre bem medicado.

Certa vez eu resolvi substituir o Rivotril, que tomo para dormir, por remédios naturais, ou que não fossem tarja preta. Fiz umas experiências e não fui bem sucedido.

Sabe aquele aparelhinho de matar mosquitos, que fica plugado num ponto de força, com uma luzinha vermelha acesa à noite? Eu uso ao lado da minha mesa de cabeceira. De repente comecei a achar que dentro daquela luzinha havia um pequeno ser, e eu conversava com ele como se fosse real. Bastaram duas noites.
__ Eu, hein?
Nem precisei contar pra minha mulher. Corri ao psiquiatra, bastou tomar uma caixa de um medicamento que eu ainda não conhecia, voltar para o Rivotril e pronto: a luzinha vermelha continuou a ser vermelha, o pequeno ser jamais voltou.

domingo, 5 de setembro de 2010

BIPOLAR, SURDO E GENIAL

Imagine um sujeito que nasceu em 1770, que poderia ser classificado hoje como hipomaníaco, mas que não podia se tratar adequadamente, pois os remédios mais eficazes para bipolares surgiram 200 anos depois. O Dr. Diogo Lara, em "Temperamento forte e bipolaridade" (Ed. Saraiva), descreve algumas características do comportamento hipomaníaco: exibicionista, exagerado, dramático, muita energia e pouco sono, impulsivo, briga por motivos pequenos, não aceita posições contrárias, interage pouco, às vezes se perde com mil planos.

Alguma semelhança com a biografia de Beethoven, ou não? Sobre ele Goethe escreveu que era uma criatura completamente indomável. Amava a liberdade, não aceitava regras predeterminadas.

Como muitos outros bipolares que não tiveram acesso aos tratamentos modernos, Beethoven bebia demais. Era uma forma de esquecer a surdez, ou de tentar driblar as depressões. Morreu intoxicado. Depois de ler as suas cartas, da autópsia e da análise do seu cabelo, o Dr. François Mai, do Chicago's McCrone Research Institute, descobriu que a surdez era apenas um dos sintomas do compositor, que incluia doenças gastrointestinais, problemas com os olhos e com a respiração, além dos seus transtornos mentais.

Nada disso, entretanto, impediu a sua genialidade. Se você duvida, ponha para tocar a Nona Sinfonia e sinta do que um bipolar é capaz.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

MANIA 2

Houve uma fase em minha vida em que eu estava quebrado, quebrado. Morava num apartamento maravilhoso no Alto Leblon e sentia que ia ter que mudar. Mas ainda não estava decidido, eu ainda nutria esperanças de novos ganhos, novos negócios, alguma salvação.

Foi quando comecei a deixar o agnosticismo, precisava procurar algum apoio espiritual. Eu falava com médiuns, me davam passes espíritas, eu lia Kardec, obras de teosofia, procurava entender o budismo, enfim, a busca era grande, mas não passava do racional. Sentir mesmo, como deveria sentir, eu não sentia.

Viaja pra cá, viaja pra lá, tenta um negócio aqui, tenta outro lá, a maré tá ruim, nada dá certo, fica longe da família, tenta rezar, esquece de tomar o remédio - precisa mais? Lá vem mais um episódio de euforia.

Domingo, duas horas da manhã, eu acordo a minha mulher.
__ Dôia, olha aquela luzinha ali pela persiana.
__ O que é que tem, Marcelo? Deixa eu dormir.
É meu anjo da guarda, Dôia. Ele veio falar comigo.
__ Não tem nada aí, querido. É só a persiana que ficou meio aberta.
__ Não é não, Dôia. É a luz dele. Ele tem uma estrela na testa.
__ Ai meu Deus, vai começar tudo de novo!