segunda-feira, 21 de junho de 2010

UM POUCO MAIS SOBRE CRIATIVIDADE

Jamais vou me esquecer de um funcionário do Serviço de Direitos Autorais, quando estive lá para registrar uma idéia de um novo jogo, que chamei de “Loteca dos Campeões”. Ele analisou o pedido e disse:
__ A gente não registra este tipo de coisas, a gente não registra idéias promocionais, esquemas de jogos ou negócios.
__ E por que?
__ O conhecimento pertence à humanidade, meu caro. Quando você obtém um direito autoral, um registro de marca ou de patente, passa a ser monopolista daquela originalidade. A lei não lhe permite certos monopólios.

Ainda soa meio vago para mim. Uma canção pode. Um novo jogo não pode. Mas que o conhecimento pertence à humanidade, disso não tenho dúvidas. Fiquei pensando o seguinte: o sujeito é criado dentro de uma redoma, sem contato humano, sem ver nem ouvir nada lá de fora. Quando ele crescer, vai ter condições de criar alguma coisa? Só se relacionar a alimentação que deram a ele ao funcionamento do seu próprio corpo, algo assim. Criar é o ato de relacionar conhecimentos adquiridos, na escola ou na vida, e arranjá-los de forma original. É uma busca pelo novo, mas criações originais partem do conhecimento de si próprio e daquele que a humanidade nos proporciona:
“Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock
Para as matinês...”

A criatividade também exige elaboração, transpiração. Por mais criativo que seja o Chico Buarque, ele precisa se dedicar, estudar, trabalhar, perseverar. Só depois passa a ser genial. Até mesmo os bons repentistas, supostamente sem escola, são exímios observadores do seu mundo. Para citar um exemplo de outra área, Bobby Fischer começou a jogar xadrez com 6 anos de idade, foi campeão americano aos 13, mas só ganhou o campeonato mundial aos 29. Genialidade exige esforço.

Com os bipolares é a mesma coisa. Ser criativo apenas não é suficiente. Muito menos em estado de humor eufórico.

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