terça-feira, 15 de junho de 2010

MAIS UM PAINEL NA MINHA VIDA

Dessa vez foi no Vidigal.
O cabo eleitoral chegou pra mim e falou, com o maior entusiasmo:
__ O senhor precisa ir lá, lá no alto. Tem uma vista pra comunidade inteira. Mas tem que ser um painel bem grande, com a fotografia do deputado, todo mundo vai ver!

No dia seguinte eu subi o morro com o Moreira a tiracolo. É interessante. Você sobe a favela do Vidigal do início ao fim por via asfaltada. Às vezes fica estreitinho, faz curvas feito um caracol, mas você chega lá no alto. No cocuruto do morro tem uma praça, tem um bar com sinuca e uns caras que te olham com vistas de poucos amigos. Como não podia deixar de ser, um bebum foi se chegando.
__ É o painel? O senhor veio ver o painel. É ali naquela lage, oh!
Nessas horas, nada de duvidar da sapiência do álcool.
__ Vamos medir, Moreira.
__ Marcelo, isso aqui vai precisar de uma super estrutura. Olha o tamanho desse negócio, olha o vento!
__ ‘Cê me entrega quando?
__ 7 dias, no mínimo.
__ ‘Cê ta louco, cara? Uma semana chega em cima da eleição! Três dias no máximo, vai!

Pagamos o dono da lage adiantado, o Moreira levou os ajudantes e começou a trabalhar. Mas não sem antes me ligar pra dizer que não dava pra puxar a força, patati-patatá. Essas coisas que a gente acaba resolvendo.
Não demorou muito, mais uma vez o maldito celular:
__ Marcelo, ta caindo solda na lage de baixo e o cara já veio aqui dar a maior bronca. Ta rolando o maior churrasco lá embaixo. Terça feira, é mole?
__ Joguei merda na cruz, só pode ser. Vai fazendo o que der com a estrutura deitada. O Arnaldo já ta silkando a lona, amanhã de manhã vai pra aí.

No dia seguinte, equipe toda na maior força-tarefa, celular de novo.
__ Marcelo, os caras vão invadir a Rocinha, isso aqui virou a maior praça de guerra. Ta todo mundo com medo, a gente vai embora.
__ Vai embora não, peraí.
E lá fui eu subir aquele caminho tortuoso. Quando cheguei lá em cima, já estava escurecendo e a praça apinhada de gente, cada cidadão de botar medo nos irmãos Metralha. Tinha até bazuca, é mole? E de repente, pum!!! Os caras estouraram o transformador da Light com um tiro de fuzil, de escopeta, sei lá. O certo é que ninguém queria luz por aquelas bandas.

Não preciso dizer que saímos bem de fininho, e que o deputado ficou sem o seu painel, certo?

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