sexta-feira, 18 de junho de 2010

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE ESPINHOS

Você já ficou vários dias deprimido, entrou num elevador e foi se encolhendo, se agachando no canto a cada pessoa que entrava? Você já ficou eufórico a ponto de entrar numa livraria e comprar R$6.000,00 em livros, depois passar a noite inteira rindo sem parar? Você já concluiu que o feixe de luz que entrava pela sua persiana tinha algo de divino, tinha um santo que vinha conversar com você?

Tudo isso já aconteceu comigo. Aconteceu antes que eu tomasse o lítio, porque os medicamentos não eram os mais adequados, ou aconteceu depois, porque negligenciei o tratamento ou então o sono. Perdi o equilíbrio, pura e simplesmente.

Pesquisando na internet, encontrei um sujeito dizendo que era bom mesmo não tomar os remédios direito, porque se todos tomassem viveriam chapados e não teríamos chance de ler a genialidade de Hemingway.

A bipolaridade do escritor (psicose maníaco depressiva naquela época) foi diagnosticada nos seus últimos anos de vida. Ele tinha outros problemas graves de saúde, inclusive o alcoolismo. Seu transtorno foi tratado com eletrochoque, com algum sucesso, mas logo depois ele começou a perder a memória e se suicidou.

Você acha que Hemingway era feliz? Você acha que os episódios de euforia que relatei da minha vida têm alguma coisa próxima da genialidade? Você acha que para produzir uma obra genial o sujeito tem que ser bipolar, louco ou desajustado? Claro que não.
Os remédios não nos deixam necessariamente chapados, muito menos reduzem a nossa criatividade. O que eles nos dão é estabilidade de humor, o que ajuda muito para trabalhar bem, conviver bem, criar coisas boas e buscar a felicidade.

Um comentário:

  1. Agora fiquei com medo... Mas o remédio não tira nossa criatividade tão arcante não né?

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