quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CAZUZA, ANJO OU DEMÔNIO?

Está circulando na internet um e-mail criticando fortemente o filme sobre a vida do Cazuza, seu comportamento, a educação que recebeu dos seus pais, a posse e o uso de drogas – tudo. Não fui ver o filme, mas li em “Temperamento Forte e Bipolaridade”, do Dr. Diogo Lara (Ed. Saraiva), que Cazuza era bipolar. Está no capítulo dedicado a celebridades, página 147 e seguintes.

Cazuza foi, na realidade, um bipolar que não se tratou. Não sei por qual razão, pois já existiam tratamentos adequados na sua época. O carbonato de lítio, por exemplo, começou a ser usado pelos psiquiatras na década de 70. Anteriormente ao lítio, muitos outros bipolares encontraram nas drogas – lícitas ou ilícitas – algum alívio para os seus transtornos: Winston Churchill era alcoólatra, fumava e comia doces sem parar. E há inúmeros outros casos famosos: Elvis Presley, Elis Regina, Marilyn Monroe... Alguns até se suicidaram: Hemingway, por exemplo. Era dureza ser bipolar antes da década de 70!

A principal característica do bipolar é a mente inquieta, o que pode provocar desequilíbrio de humor e comportamento. Existem duas soluções, possivelmente ministradas simultaneamente:

- o tratamento químico à base de lítio ou de outros estabilizadores mais modernos;

- a psicoterapia, que trata dos desequilíbrios sociais, familiares ou no trabalho.

E é possível atingir o equilíbrio.

Antes de denegrir personalidades, quem escreveu aquele e-mail deveria se informar melhor.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

FALANDO SOBRE FELICIDADE (6)

Hoje li um artigo de autoria do Frei Betto, publicado no jornal O Globo. Não concordo com tudo, mas gostei muito de um parágrafo que gostaria de dividir com vocês:
"A felicidade é um bem de espírito, jamais dos sentidos, da cobiça ou da arrogância. É feliz quem ousa destampar o próprio ego e conectar-se com o Transcendente, o próximo e a natureza. Esse irromper para fora de si mesmo tem nome: amor. E se manifesta nas dimensões pessoal, no dar de si ao outro, e social, no empenho de construir um mundo melhor."

Acho que ele sintetizou tudo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

UMA BOA NOTÍCIA

Disse o meu psiquiatra que alguns estudos indicam que a bipolaridade pode diminuir com o passar dos anos. Além do fato de que eu levo o tratamento muito a sério e com muita disciplina, talvez seja por isso que há muito tempo eu não tenho uma crise.

Viva! descobri uma vantagem de ser velho!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

POR QUE SERÁ QUE EU ESCREVO?

Até a adolescência, e mesmo na fase adulta, eu sempre quis ser aceito socialmente. Eu fazia o que achava que as pessoas esperavam de mim, talvez seja por isso que tantas vezes tenha sido avaliado como “leal” pelos trabalhos que passei.

Porém, por vaidade intelectual, passei a querer admiração. E a internet foi o instrumento que faltava. Ali eu defenderia minhas idéias, ali era a minha tribuna. E-mails em profusão, website, twitter, facebook, webartigos, blogs, páginas de discussão, dois livros publicados, mais a colaboração em um outro – já escrevi o suficiente para colecionar perto de 3.000 resultados na pesquisa Google pelo meu nome: “marcelo c p diniz”.

E pra que serviu todo esse esforço? Dinheiro, diretamente, não rendeu. Se serviu para me dar um certo status que gerou clientes de consultoria, pode ser, mas ninguém disse que foi por isso. De tudo por tudo que já escrevi até agora, fora das agências de publicidade, só ficaram claros uns poucos retornos positivos:
- o livro Crônicas de Um Bipolar recebeu muitos elogios e até agradecimentos;
- o blog do mesmo nome também recebe. Acho que essas duas obras servem para ajudar alguns bipolares a conhecerem melhor as suas potencialidades;
- os artigos “A favela é formal ou informal” e “A desigualdade social e a estética das classes A e B” já passaram de 3.500 leitores no webartigos. Acho, não tenho certeza, que algumas pessoas fizeram estudos com eles.

É o que eu posso dizer. Plantar cinco filhos, um flamboyant e dois livros neste mundo, até que não foi nada mal. Mas o ego pede mais...

POR QUE SERÁ QUE EU ESCREVO? primeira versão em 19/12/2010 em http://www.webartigos.com

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A SAPIÊNCIA DA PERERECA E O OTARIADO

Não perca em http://www.voteperereca.blogspot.com . Veja se você se enquadra nesta imensa categoria de brasileiros: o otariado.

O MÉDICO DA FAMÍLIA

Uma das pessoas mais duras, aparentemente insensíveis que eu conheci na vida foi meu avô Joel. De descendência portuguesa, começou como sapateiro, mas quando eu era criança ele já estava no Pronto Socorro Policial de Belo Horizonte. Tinha lá um cargo burocrático, mas também era perito em serrar crânios para ajudar nas autópsias.

Vovô Joel não tinha uma palavra meiga, tudo era chocantemente franco, com o palavreado mais ríspido possível.

__ Vovô, olha esta coceira aqui na minha mão.

__ Isso é qualquer coisa que não vale nada.

E virava as costas.

__ Vovô, eu tô muito gripado.

__ Vem cá, vou te dar uma injeção.

E a aplicação, fosse o líquido oleoso ou não, durava um segundo e meio. Uma espetada, uma injetada – bem com força!

__ Vovô, meu braço tá doendo muito.

__ Deixa de ser mole.

Um dia, aos nove anos de idade, depois de brincar pela rua durante umas férias inteiras, bebendo água da torneira de molhar plantas (imagine, água sem tratamento em Belo Horizonte na década de 50), cheguei em casa com tonteira e enjôo. O “médico” da família era o meu avô. Afinal, ele trabalhava no Pronto Socorro Policial, ou não?

__ Dá um cristel nesse menino que passa.

Para quem não é familiarizado com o nome, cristel é uma bola de borracha que se enche d’água. Tem um canozinho num dos lados para enfiar no ânus. Depois de uma borrifada intestino adentro você evacua até o cérebro. E aconteceu conforme o previsto. Eu fiquei mais fraco ainda e, quando mamãe achou que eu podia morrer, chamou um médico de verdade: hepatite. Noventa dias de cama.

Aprendi muita coisa com vovô Joel. A mais marcante dizia o seguinte:

__ "Seja homem!"

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

JÁ QUE VOCÊ É CAGÃO...

Não, não é você não. Desculpe!
Foi a médica que disse isso pra mim. Logo pra mim, que fui criado sem poder nem chorar, porque homem não chora, certo? Logo pra mim, que tenho uma boa resistência pra dor, que costumo jogar a minha bipolaridade lá pra cima e sou até um pouco destemido.
Pois é, ela está firmemente empenhada em resolver o problema das minhas narinas entupidas e do meu vício (olha só que viciozinho de nada!) com o Afrin. Primeiro me passou uma série de remédios, melhorei. Agora resolveu que eu tenho desvio de septo nasal, que precisa fazer uma cirurgia e que, ainda por cima, vai ter que cauterizar.
__ Como é que é? A senhora vai me deixar com curativo nas duas narinas, e eu vou dormir sentado na cama, respirando pela boca?
__ Isso passa logo.
__ Não vai não.
__ Tá bom. Então, já que você é cagão, vou fazer só um pequeno procedimento.
Tá doido, eu chego a sonhar que estou morrendo afogado. Fico imaginando esses filmes, em que o bandido coloca uma fita adesiva na boca do sequestrado. Já pensou, se fosse comigo? O nariz entopia e eu morria sem ar.