domingo, 26 de dezembro de 2010

FALANDO SOBRE FELICIDADE (1)

Nunca tinha me aventurado a falar sobre isso antes. Foi quando um colega provocou o assunto dizendo o que ele sentia (www.bloggerbipolar.blogspot.com) e eu resolvi também dar as minhas opiniões, mesmo não sendo especialista no assunto.

A primeira coisa que me vem à cabeça é a seguinte: a felicidade não pode ser dissociada do tempo. A mulher entra na igreja vestida de noiva. Costuma ser um momento de radiante felicidade, sonhos e mais sonhos sendo realizados ali, naquele momento. Mas é óbvio que não é para sempre. O casamento pode ser duradouro, a vida em comum pode ser construtiva, o nascimento dos filhos traz outras ocasiões de grande felicidade, mas o que vai se encontrar de pedras pelo caminho é uma grandeza!

Momentos de tristeza e preocupações se sobrepõem aos momentos felizes e vice-versa. Então, o que diferencia uma pessoa feliz de uma infeliz? Imagino que seja a capacidade de enfrentar os problemas sem deixar que eles tomem conta da sua vida. Manter o bom humor, apesar dos pesares. Manter os bons propósitos, aquela firmeza de caráter que nos impulsiona para frente na convicção de que o ruim poderá ser superado e de que o bom é para ser curtido e dividido.

Vou voltar a esse “dividido”. Acho que é muito importante.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O BIPOLAR E OS NEGÓCIOS

De vez em quando eu reviso os comentários dos meus posts e descubro, com algum atraso, que há alguns a responder. Noutro dia um leitor falou que é empresário... quase quebrado ... bipolar... precisa de algumas dicas.
Coçei a cabeça. Afinal de contas, já entrei em tantos negócios e empregos pela vida, me dei bem, me dei mal - o certo é que nunca sobrou dinheiro para dizer assim: agora eu posso aposentar!
E, então, o que eu posso aconselhar?
1. Dê preferência para trabalhar no que você gosta. Na pior das hipóteses, não vai ficar amaldiçoando o trabalho todo dia.
2. Seja aplicado. Procure conhecer todos os aspectos do seu negócio e do seu mercado. Quanto mais você conhecer, menores chances terá de errar.
3. Não dê confiança para sábados, domingos e feriados. Todo dia é dia de trabalho, se preciso for.
Acho que essas regras valem pra qualquer um. Receita de bolo. Agora a regrinha mágica para nós bipolares:
4. Cuidado com as ilusões, aquela coisa de achar que o jogo está ganho sem considerar o adversário, a chuva que está chegando, as falhas do juiz, as suas próprias falhas etc. etc. etc.
5. E cuidado para não gastar o dinheiro antes de ganhar.

No mais, é o que eu sempre digo: não dá pra ser equilibrado sem um bom médico, em primeiro lugar.
Sucesso!

domingo, 12 de dezembro de 2010

MEU CASAMENTO TEM 39 ANOS

Nos blogs dos bipolares que eu sigo, leio muitas questões existenciais, amores perdidos, amores queridos, amores sublimados, alguns amores realizados. Quase todo mundo é muito jovem em relação aos meus 62 anos e a vida parece estar por se definir, em alguns casos.

Eu vou dizer da minha experiência, serviu para mim, não sei se vai servir para mais alguém. Quando eu comecei a namorar a Dôia, primeiro foi por causa do seu sorriso e da sua beleza, depois foi porque eu gostava de estar com ela. O convívio me mostrou várias diferenças, até mesmo alguns defeitos que me desgostavam muito. Mas eu também não tinha os meus? Resolvi deixar de prestar atenção nos defeitos. Um único beijo valia mais do que aquilo tudo.

O namoro foi progredindo e tivemos a sorte de estar numa época em que o país progredia, não havia problema de emprego nem restrições sérias de dinheiro, pelo menos para os nossos padrões. Estávamos satisfeitos com a nossa classe média e resolvemos casar. Aí aconteceu um negócio importantíssimo, que não teve nada a ver com paixão e outras tramas do coração: nós dois resolvemos que era para sempre. Quando você assume um compromisso desses, todos os problemas podem ser superados. E foram: a escova de dentes fora do lugar, as diferenças de percepção quanto à educação dos filhos, as demais diferenças de toda sorte, as presenças pegajosas, as ausências demoradas, o excesso de tesão, a falta de tesão, as crises financeiras, as culpas, os ciúmes, as doenças - tudo foi superado por uma única postura mútua: compromisso. Compromisso que envolve a aceitação do outro como ele é, compromisso que abre mão do ego, de vez em quando, porque o futuro é preciso.

E o compromisso é para sempre, para o que der e vier. O que resulta numa vida muito construtiva, de um amor que une cada vez mais, porém não é necessariamente uma paixão.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

REMÉDIOS E CRIATIVIDADE

Eu tenho uma filha que mora nos Estados Unidos. Como se sabe, a mão de obra é muito cara por lá, então os casais fazem quase todos os serviços de casa sozinhos. Pois bem, um belo dia a Juliana resolveu que tinha de trocar o piso da cozinha. E começou a quebrar aquela joça toda. Cedo descobriu que não conseguiria fazer tudo por ela mesma e, mandona do jeito que é, convocou o marido.
__ Como é que você foi se meter a fazer isso, Juliana? Você é doida!
__ Doida já está provado cientificamente que eu sou. Agora trata de me ajudar a terminar esse piso maldito.

Parece até que a Juju não é bipolar por fator genético. Parece até que é por vocação. Ela já escreveu aqui neste blog que adora ser bipolar. Por que eu estou contando essa história?
Porque eu também estou muito satisfeito com a minha bipolaridade. E não consigo entender muito bem quando vejo alguns colegas falarem que não gostam de tomar os remédios porque perdem a criatividade. O que eu perco são as manias, os estados de euforia. E posso dizer, sem medo de errar, que já criei muita coisa em euforia - nada prestava, nada fazia sentido depois que eu atingia o equilíbrio.

Tanto eu quanto a Juju vivemos das nossas criações. Eu faço planejamentos de comunicação, ela é graphic designer. Nenhum de nós tem a pretenção de ser um Leonardo da Vinci, mas o que fazemos dá bem pro gasto. Então, porque é que o sujeito perde a criatividade medicado? Só se o remédio ainda não é o ideal.

domingo, 5 de dezembro de 2010

A PERERECA TÁ UMA ARARA!

PAZ ARMADA versus CRIMINALIDADE DESARMADA. A Perereca fala pelos cotovelos porque a Perereca tem poder: http://www.voteperereca.blogspot.com/

terça-feira, 30 de novembro de 2010

HORA DE DAR UM TEMPO

Nervosia é um fator perigoso. Dor de cabeça, enxaqueca também. Violência, mesmo sendo verbal, só pode ser ruim. Quando esses incômodos começam a aparecer no meu dia a dia, geralmente é porque ando muito insatisfeito com a situação. E perco um pouco da concentração no trabalho. Por estar com a cabeça meio atrapalhada, me desorganizo, eu mesmo dificulto a resolução dos problemas, principalmente se envolverem ciências exatas, que nunca foram o meu forte.

Quanto mais cedo eu percebo melhor. Hora de dar um tempo, fechar o computador, ouvir música, ver um bom filme ou procurar o ar livre. E sono, bastante sono.

Se não der certo, médico. Simples assim.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

CONVERSANDO SOZINHO

Você conversa sozinho, quando está trabalhando ou pensando na vida? E lá vem minha mulher:
__ Em que você está pensando?
__ Nada.
__ Você está conversando com quem, homem?
__ Coisa minha, me deixa.
Nada mais pessoal do que falar com os próprios botões, né não?

Quando eu era criança minha mãe já estranhava porque eu não lia as histórias em quadrinhos, eu falava com elas. E ria, dava cada gargalhada que era uma gostosura!
Mas tem certas situações que não são nada saudáveis. De vez em quando eu me vejo brigando com alguém na rua porque algum comportamento não me agradou. A briga acontece só na minha cabeça e eu, que sou o dono da história, sempre venço. Noutro dia eu subia pela escada rolante do Metrô e uma senhora super mal educada ralhou com a outra:
__ Sai da frente, sai da frente. Num tá vendo o aviso que tem que ficar do lado direito?
A escada era enorme, quem poderia imaginar que uma pessoa ia querer subir correndo aqueles degraus todos? A pobre coitada que levou a bronca estava completamente desligada, e sem fala ficou. Pois, na minha cabeça, eu brigo com aquela velha mal criada até hoje, toda vez que volto pra casa de Metrô. Já xinguei a bruaca de tudo quanto é nome.

Será que isso é coisa de bipolar?

domingo, 21 de novembro de 2010

VOCÊ SE LEMBRA DA PERERECA?

A bichinha está devidamente e oficialmente relançada a partir de hoje, porque "A Perereca tem poder".
Veja em http://voteperereca.blogspot.com/

terça-feira, 16 de novembro de 2010

MEUS PROJETOS INACABADOS (3)

Projeto novo é o seguinte: tem que ser muito bem pensado, antes que a gente pule de cabeça na idéia e quebre a cara. Quando a internet ainda engatinhava, imaginei uma agência de publicidade revolucionária: Agência Virtual de Talentos. Corri para comprar o domínio e saí distribuindo e-mails para profissionais e potenciais clientes a torto e a direito. A idéia era formar uma espécie de cooperativa entre criativos e pessoal de planejamento, que trabalhariam em casa, oferecendo aos anunciantes o que havia de melhor, sem os custos operacionais e trabalhistas de uma agência convencional.

Só esqueci de combinar com os russos:
1. não existia banda larga suficiente para intercambiar os trabalhos com qualidade;
2. não existiam as facilidades do Skype ou de videoconferências como existem hoje;
3. os clientes continuavam e continuam exigindo interatividade pessoal e constante com o atendimento, para citar o mínimo;
4. os trabalhos continuam demandando pesquisas e instrumentação de mídia que as agências precisam ter e são caras;
5. trabalhos complexos exigem interatividade pessoal entre todos os profissionais envolvidos.

Moral da História: a Agência Virtual de Talentos talvez seja, em parte, viável hoje em dia. Mas certamente não era naquela época. Ficar empolgado com uma idéia é uma coisa, fazer um planejamento detalhado e factível é outra. Colocar pra funcionar, então... Só posso dizer que o famoso "não desista das suas idéias, não desista dos seus sonhos" é uma postura muito construtiva, desde que abra mão da ilusão.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

MEUS PROJETOS INACABADOS (2)

Este talvez seja o melhor de todos, mas ainda não encontrei um político que estivesse disposto a fazer. Quando Mario Covas era candidato a presidente da República, concorrendo com Ulisses Guimarães (mais um bipolar, liderou a Constituinte de 88), Brizola, Maluf, Jânio Quadros, Collor e Lula, eu escrevi para ele: "a eleição será ganha na televisão, por mais atuantes que sejam as estruturas partidárias. Não fosse assim, o Collor não poderia estar liderando."

"Então, como se destacar dos outros, Sr. Covas? A solução está em dizer com clareza o que será feito para moralizar. Detalhar, quantificar a moralização. Detalhar, quantificar as obras. O povo já não ouve, não entende, não acredita nas promessas genéricas. Ouvir qualquer político dizer que as prioridades são saúde, educação, transporte etc., soa assim mesmo, como um etc."

POR UM CRONOGRAMA DE GOVERNO - "O povo não quer generalidades, tipo vou acabar com a corrupção. O povo quer radicalismos: vou botar os marajás na rua. Diga então: Serei empossado no dia x. Até o dia y terei demitido tantos mil funcionários públicos ociosos. A indústria x tem até o dia y para deixar de poluir o rio, caso contrário será fechada. Imponha prazos a si mesmo. Assine embaixo. Faça tremer a audiência. A população anseia por um candidato que seja a negação do político tradicional. Apresente um cronograma de moralização do governo."

O Sr. Covas me agradeceu, fez promessas sérias à população, mas não apresentou o cronograma. Experimente dizer para uma garota que você pretende namorar: vou te procurar. Em outra ocasião, diga: passo na sua casa amanhã às 8 horas. Em qual das duas promessas ela vai acreditar mais? É a data que materializa a proposta.

Resultado: Lula e Collor no segundo turno. E o Collor deu no que deu.

sábado, 6 de novembro de 2010

MEUS PROJETOS INACABADOS (1)

O negócio era criar algo que não existisse. E que desse dinheiro. Como de médico e louco todo mundo tem um pouco, meu sogro, que era um homem muito estudioso, afirmava com convicção:
__ A juventude está perdida, todos usam tenis, o solado de borracha isola todo mundo da energia da terra. Vão adoecer. Quer se salvar? Pise descalço na areia da praia ou na grama e se reconecte com o universo.
Não tão louco assim: é o conceito de "grounding" da Bioenergética.

Levei a sério aquele ensinamento e criei o VitaSola, um solado de borracha que tinha uns pinos de couro em contato com o chão e com uma palmilha também de couro. Consequentemente, com os pés. Estava resolvido o fluxo de energia e o conforto dos tenis se mantinha. Procurei um agente de marcas e patentes, registrei como modelo de utilidade, registrei até no exterior.

Na época, eu era professor na Escola Superior de Propaganda e Marketing-RJ e resolvi testar o conceito. Pedi aos alunos para fazer um trabalho de lançamento do produto. Surgiram idéias notáveis, inclusive a marca e o desenho dos pinos de couro com a simbologia do yin-yang.

Sabendo que tudo que é novo choca e costuma demorar a ser aceito, eu visitava fabricantes de tenis, levava um não atrás do outro, mas não desistia. Até que consegui uma reunião com o gerente industrial da fábrica da Alpargatas, em São José dos Campos. Negativa simples e definitiva, pelo menos para a época:
__ Se eu introduzir este produto aqui, vou atrasar a produção drasticamente. É difícil, oneroso e lento de fazer.

Restou ao VitaSola uma página de registro no INPI, que fui relembrar agora, quando remexi meus alfarrábios para mudar de apartamento. Mas não joguei fora...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

PERSEVERANÇA E ILUSIONISMO

Quando eu ainda estava no Colégio, a cada projeto novo respondia com pouco esforço e uma desistência. Até que um dia tomei consciência de que o sucesso dependia de perseverança. Foi assim, por exemplo, com o meu casamento. Estamos com 39 anos. E foi assim com a minha vida profissional. Diziam, e ainda dizem, que sou leal. Leal porque assumo as responsabilidades e não desisto. Também dizem que trabalho muito - pelas mesmas razões.

Eu sou um grande perseguidor de objetivos e idéias. Mas, como as moedas têm dois lados, há também o lado do ilusionismo. Às vezes, como costuma dizer o meu bom amigo Tavito, somos induzidos ao erro. Participamos de um trabalho coletivo e alguém diz "vai por ali", outros concordam, alguma coisa nos diz que não é bem assim, mas a gente embarca na canoa assim mesmo e... afunda.

Em outras ocasiões, a ilusão vem da nossa própria cabeça. Ficamos entusiasmados com uma idéia e entramos de cabeça sem analisar perfeitamente se ela é própria para o nosso espaço-tempo ou se pode render o suficiente para compensar o nosso investimento em tempo e dinheiro.

Mudei recentemente de moradia e encontrei documentos e anotações sobre projetos que já abracei com toda força e perseverança, mas sem o devido realismo. Já tinha até esquecido. No próximo post vou começar a contar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A PERERECA SAIU DE FÉRIAS















Lembra daquele site que eu criei, www.voteperereca.com.br? Pois é, nós resolvemos dar um tempo nessas eleições. Mas a Perereca vai voltar pra meter o pau na corrupção. Porque a Perereca tem poder! Aguarde.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CUIDADO COM A AGRESSIVIDADE

O equilíbrio é uma linha muito tênue. E, mesmo medicados, não estamos imunes às emoções. Olha só a confusão que eu aprontei no aeroporto de Congonhas outro dia mesmo. Estava cheio de pressa, na fila do caixa eletrônico para tirar dinheiro para as despesas. Tinha um rapaz na minha frente e um casal de amigos ou namorados utilizando o caixa. Eles riam, colocavam o cartão, tiravam, colocavam outro, faziam uma operação, riam de novo - aquele troço não acabava nunca.
Fiquei irritado e gritei:
__ Olha aí, vocês dois, se estiverem precisando de ajuda, falem!
O rapaz, nada fraco, virou-se com cara de poucos amigos.
__ O que é que você tem com isso?
__ Tenho tudo a ver, estou na fila!
Ele virou de costas e a moça procurou justificar:
__ A gente tá demorando porque somos dois, tá?
E o cara emendou:
__ Daqui a pouco vai ficar tudinho pra você, tudinho.
Nesse momento, o rapaz que estava na minha frente tomou as dores:
__ Você fala assim porque é um senhor. Vai falar isso comigo?
E eu me enchi de marra:
__ Comigo também não fala não!

Maldito DNA. O casal foi embora, a senhora ao lado disse que São Paulo deixava todo mundo estressado, tirei meu dinheiro e fui pegar um taxi. Sabe aqueles rapazes que pegam as nossas malas para colocar no carro? Advinhe se o meu desafeto era um deles...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

VOCÊ QUER CONTINUAR BIPOLAR OU NÃO? (4)

Eu quero. Sabe por que? Porque consegui chegar ao equilíbrio. Cheguei ao equilíbrio porque tomo meus remédios todo dia, e não abro mão. Cheguei ao equilíbrio também porque consegui ter uma vida estável com a minha família, meus amigos, meu trabalho. E, no meu caso, sono é fundamental. Então eu durmo 7/8 horas por noite, e também não abro mão.

O psiquiatra Diogo Lara, que eu sempre cito por aqui, diz que os bipolares podem apresentar ousadia, criatividade, entusiasmo e energia, sedução e carisma, têm vocação para a conquista, pensamento rápido e versátil, liderança, inovação, visão, capacidade de motivação e automotivação, otimismo, esperança e autoconfiança.

Nem todos apresentam tudo isso, mas podem apresentar. Já pensou escrever um currículo assim? Sou bipolar, consequentemente sou ousado, criativo etc.

Calma, nem tudo são flores. Diga ao seu futuro empregador, sócio, parceiro, amigo, amor: sou bipolar sim. Consegui o equilíbrio e posso aproveitar todas as boas características da minha natureza.

Pelé sempre soube onde estava o gol. Sempre jogou em direção ao gol. Os bipolares também jogam no ataque. Mas nem sempre percebem que o gol está no equilíbrio.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

VOCÊ QUER CONTINUAR BIPOLAR OU NÃO? (3)

Na última postagem eu coloquei 2 qualidades que são comuns aos bipolares e que me ajudaram bastante na vida: coragem e criatividade. Claro está que se eu não estivesse equilibrado, a coragem poderia se tornar temeridade e a criatividade poderia desaguar em algum projeto sem qualquer sentido, uma ilusão.

Eu também disse que a falta de dinheiro, em alguns períodos da minha vida, me fizeram sofrer mais do que o transtorno bipolar. Falta de dinheiro diz respeito a perdas, e também a ir deitar com o peito apertado sem saber como resolver os problemas do dia seguinte, do mês seguinte, do ano seguinte.

Jamais deixei de perseguir as soluções. Acho que essa perseverança, essa energia para o trabalho também tem a ver com certos bipolares. Mas algum alívio eu encontrei na busca espiritual. Procurei mediuns que me confortavam e me apresentavam outros caminhos. Eu acreditava desconfiando, mas de alguma forma me faziam bem. E li muito: auto-ajuda, new age, Kardec, cabala, cristianismo, filosofia - tudo foi importante para eu me conhecer melhor e, de uma certa forma, funcionar como meu próprio psicanalista. E quando encontrava soluções no trabalho, céu azul novamente.

A gente toma remédios e, depois de algum tempo, resolve a parte química do transtorno. Mas o equilíbrio não vem só daí. É preciso estar bem com a família, com os amigos, com a profissão. Se não está, a ajuda de um psicoterapeuta é necessária. Ou então, o autoconhecimento, que promove uma certa sabedoria nas relações. Todos nós temos esse poder.

sábado, 16 de outubro de 2010

VOCÊ QUER CONTINUAR BIPOLAR OU NÃO? (2)

Lancei o desafio e só uma pessoa respondeu. Foi um sonoro NÃO!

E agora? Eu digo que sim. E explico porque. Os maiores problemas que eu tive na vida não foram por causa da minha bipolaridade, foram por causa de dinheiro. Até os 24 anos de idade eu não havia sido diagnosticado. Tive umas crises de depressão, mas foram passageiras. Por outro lado, naquela época emprego não faltava, eu estava bem. Quando tive minha primeira grande depressão e fui parar no hospital já era casado, tinha uma filha e era gerente distrital de uma grande empresa. Até os 30 anos o transtorno incomodou bastante. Os remédios não eram ideais e o humor subia e descia toda hora. Mas quando me transferiram para o Rio de Janeiro, comecei a tomar o lítio e o céu voltou a ficar azul.

Importante voltar a dizer: ninguém deixa de ser bipolar só porque atingiu o equilíbrio. As características da personalidade ficam. E são muito boas, se a gente está controlado. Foi por causa delas que eu tive coragem de abandonar um emprego de 12 anos para montar o marketing do Cometa Halley. E também foi por causa delas que eu tive um enorme prazer de criar e trabalhar naquele projeto.

Quando o cometa (não) passou, em 1986, veio a primeira crise financeira. Muito mais sofrida do que ficar 45 dias no hospital. Depois eu conto o resto...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

COMO A GENTE SE ENGANA!

Quem já leu o meu livro sabe que eu era um turrão comigo mesmo. Não havia maneira de viver bem com as contrariedades - viessem do exterior ou da minha própria cabeça, dos meus preconceitos, das minhas posições irredutíveis. A vantagem é que, com o tempo e um pouco de esforço próprio, isso passa.

Só pra exemplificar, certa vez me deram um estagiário. E ele errava seguidamente. Chamei para uma conversa:
__ Você tem certeza que o seu negócio é publicidade?
__ Tenho, eu adoro publicidade.
__ Quem sabe seu pai não abre pra você uma loja de tecidos, não é o negócio da sua familia?
__ Não é isso, é que eu estou vivendo uma série de problemas particulares lá em casa...
Eu não quis saber. Subi pra falar com meu chefe e determinei.
__ Eu quero mandar o Fulano embora.
__ Marcelo, você simplesmente não pode mandar o Fulano embora.
Existiam lá uns assuntos de amizade que eu também não quis saber. Desci as escadas fulo da vida e não havia meio de tratar bem o coitado.

Pra encurtar a história: pouco tempo depois transferiram o estagiário para outro departamento, os problemas particulares foram sanados, ele foi progredindo, progredindo, progredindo - hoje deve ganhar o dobro do que eu ganho com pouco mais da metade da minha idade.

"No hard feelings". Ele é o rei da simpatia e ficamos muito amigos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

VOCÊ QUER CONTINUAR BIPOLAR OU NÃO?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

PERFECCIONISMO NÃO É BRINQUEDO NÃO

Minha mãe não tinha qualquer doença mental diagnosticada. Mas é certo que não era feliz. Vivia se danando com a limpeza da casa, com a imperfeição das empregadas, com o estilo de vida do meu pai, que era alegre e festeiro, com tudo que não estivesse limpo, perfeitamente organizado, com tudo que não estivesse de acordo com o seu próprio estilo de vida.

Cresci, naturalmente, sendo um misto dos meus pais. Herdei um pouco de cada e a minha esposa sofreu com isso, no início do casamento. De familia italiana bem típica, ela jamais foi um primor de organização e, lembrando as exigências da minha mãe, eu não aceitava uma escova de dentes fora do lugar, para citar só um exemplo. Todos sabem, no início do casamento é comum que se queira moldar o outro à nossa própria feição. Coisas de quem é jovem, coisas de quem ainda não entendeu perfeitamente a unicidade de cada ser humano.

Com o tempo, os casamentos se transformam em ligações duradouras, muito porque as partes aprenderam a ceder.

Mas o que eu queria dizer neste post, em síntese, é o seguinte: perfeccionismo dói. E pode até causar depressões desnecessárias. Quando a gente passa a aceitar nossos próprios defeitos e os dos outros também, pode ser que o trem não chegue no horário, mas a viagem é mais leve.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A BUROCRACIA SUBVERTE A MORAL

Bipolar ou não, eu penso que falta um pouco de indignação à população brasileira. São tantas as coisas que nos prejudicam, que nos incomodam, e quase sempre a nossa reação é de não reagir. Com isso, o que está errado continua errado. Vejamos 2 exemplos:

1. A lei do Ficha Limpa listou 322 candidatos envolvidos em falcatruas. Presume-se que a Lei esteja refletindo o senso comum, aquilo que a sociedade pede para ficar melhor, para ser melhor. Então, 4 juízes do Supremo Tribunal Federal, a corte mais alta do país, votam contra a sua aplicação. Qual será o senso de justiça desses juízes?

2. Agora uma situação bem mais cotidiana. Aluguei um novo imóvel e o contrato é avalizado por uma pessoa amiga. Para que o contrato tenha valor, todas as firmas devem ser reconhecidas, ou seja, não existe confiança pública em nenhum de nós. Quer pior? A Corregedoria do Rio de Janeiro baixou uma instrução que exige que o avalista vá pessoalmente ao cartório onde já tem firma registrada para assinar o contrato na presença do tabelião. É quando, definitivamente, a burocracia subverte a moral. Para o funcionário do cartório não importa se o locador espera aquela assinatura com firma reconhecida para poder registrar o contrato, não importa se o caminhão de mudanças já está contratado, não importa se o locatário precisa das chaves do imóvel, nem mesmo se o avalista está viajando. TEM QUE VIR AQUI PESSOALMENTE! Em outras palavras: o papel é mais importante do que a necessidade humana.

Você concorda?

domingo, 26 de setembro de 2010

O DESLIGADO

Meu pai um dia foi carregar o carro e deixou uma das malas no meio da rua. Diziam que era porque ele era filho único, se acostumou a ter sempre a mãe por perto para ajudar em tudo. Eu também fui filho único durante quase 7 anos. De vez em quando faço uma dessas.

Outro dia peguei um taxi em Copacabana em direção ao Galeão. Meu destino era Belo Horizonte, tinha um casamento que não podia perder. Quando cheguei ao aeroporto, quedê a carteira? Não dava tempo de voltar, não dava tempo de mandar buscar, era ir ou não ir ao casamento. Resolvi ir. Convenci o taxista a voltar a Copacabana e cobrar a conta da minha mulher. E entrei no aeroporto sem nem um documento, sem nem um tostão. Hoje em dia eles estão mais rígidos mas, há alguns meses atrás, não foi tão difícil convencer a moça do check in a me deixar embarcar sem a carteira de identidade.

Cheguei a Bhte. Meu estava me esperando, pedi um dinheirinho emprestado, tudo bem. Restava o casamento: tinha que dirigir até a casa de festas e voltar. Era longe, e carteira de motorista não havia. Fui assim mesmo. Nenhuma blitz.

Na volta, o garoto do check in estranhou:
__ Mas o senhor não tem nenhuma carteira de identidade?
__ Meu filho, a rigor, a rigor, eu não tenho nem eu hoje em dia!

Sei lá o que significava essa frase, mas ele me deixou embarcar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

CONDUTA INSEGURA, TODO CUIDADO É POUCO

Na ânsia de criar, alguns bipolares atingem a genialidade. Na ânsia de superar seus altos e baixos de humor, alguns são levados às drogas e ao álcool. Na ânsia de viver emoções novas, podem entrar na euforia das compras, nos esportes radicais, ou no sexo inseguro.

Em “Temperamento Forte e Bipolaridade” (Ed. Saraiva), o Dr. Diogo Lara cita alguns brasileiros famosos que apresentaram sintomas de bipolaridade e chegaram a se comportar de forma insegura: Elis Regina, Cazuza, Ayrton Senna.

Afinal, o que é preciso para manter o equilíbrio na vida, sem perder o potencial criativo? Vários fatores podem ajudar:

a)- para o equilíbrio do humor, o acompanhamento de um bom psiquiatra e/ou um bom terapeuta são os primeiros passos. Consumir óleo de peixe como suplemento alimentar, embora ainda não seja uma recomendação absolutamente científica, pode ajudar. Dormir bem, fazer exercícios aeróbicos, evitar uma vida excessivamente agitada são práticas importantes.

b)- para a criatividade, estudar, estar atento à vida, à natureza, a tudo que nos cerca. Relacionamos conhecimentos distintos para chegar à originalidade. Quanto mais conhecemos, mais fácil fica. Nem todos seremos gênios, mas podemos ser criativos sem grandes sofrimentos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

E ENTÃO, UM DIA A GENTE MORRE

Quando eu era pequeno, morava perto do cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Quando tinha um enterro de rico, com muitos carros, ia lá ver e fazia de conta que todo aquele choro não me afetava. Depois, perdi minha irmã, outros parentes e amigos. Devo dizer que os velórios e enterros me incomodavam e muito. Tanto é que não vou mais. Não quis ver nem a partida dos meus avós paternos e da minha mãe.

Agora, aos 62 anos, acho que ainda tenho saúde para viver bastante, mas não consigo escapar do pensamento de que vou morrer. Jamais, quando fiquei deprimido, pensei em suicídio, nada disso. Pelo contrário, sempre vivi como se a morte jamais fosse chegar. Era um assunto permanentemente deletado, mas a idade faz lembrar.

Então, eu resolvi o seguinte: vou doar meus órgãos, se estiverem bons. Ou o corpo inteiro, para uma faculdade de medicina, se os órgãos já estiverem meio falidos. Não sei se há ou se não há vida após a morte. Mas o corpo físico, com certeza, perdura um pouco. Então, vamos dar a ele algum proveito. É como livro que vende pouco. Se os direitos autorais não compensam, vamos doar os livros que sobrarem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

MANIA 3

Mais importante do que descrever a mania, é saber porque ela aparece. Mais importante ainda é fazer o diagnóstico, saber que está na hora de procurar o médico.

Algumas vezes já falei que a minha última grande crise foi há mais de 15 anos. É verdade. Mas isso não quer dizer que assim, meio debaixo do pano, algumas crises de euforia não tenham colocado suas manguinhas pra fora. Aprendi a perceber os sinais. Quando eu não percebia, minha mulher estava atenta. E quando a gente vai ao médico logo no começo dos sintomas, fica fácil tratar, não é preciso interromper o trabalho, ninguém percebe.

Eu também já disse: excesso de trabalho, de agitação, falta de sono e/ou falha na administração dos remédios podem desencadear uma crise, pelo menos no meu caso. Algum fator sério de estresse também. É preciso estar sempre bem medicado.

Certa vez eu resolvi substituir o Rivotril, que tomo para dormir, por remédios naturais, ou que não fossem tarja preta. Fiz umas experiências e não fui bem sucedido.

Sabe aquele aparelhinho de matar mosquitos, que fica plugado num ponto de força, com uma luzinha vermelha acesa à noite? Eu uso ao lado da minha mesa de cabeceira. De repente comecei a achar que dentro daquela luzinha havia um pequeno ser, e eu conversava com ele como se fosse real. Bastaram duas noites.
__ Eu, hein?
Nem precisei contar pra minha mulher. Corri ao psiquiatra, bastou tomar uma caixa de um medicamento que eu ainda não conhecia, voltar para o Rivotril e pronto: a luzinha vermelha continuou a ser vermelha, o pequeno ser jamais voltou.

domingo, 5 de setembro de 2010

BIPOLAR, SURDO E GENIAL

Imagine um sujeito que nasceu em 1770, que poderia ser classificado hoje como hipomaníaco, mas que não podia se tratar adequadamente, pois os remédios mais eficazes para bipolares surgiram 200 anos depois. O Dr. Diogo Lara, em "Temperamento forte e bipolaridade" (Ed. Saraiva), descreve algumas características do comportamento hipomaníaco: exibicionista, exagerado, dramático, muita energia e pouco sono, impulsivo, briga por motivos pequenos, não aceita posições contrárias, interage pouco, às vezes se perde com mil planos.

Alguma semelhança com a biografia de Beethoven, ou não? Sobre ele Goethe escreveu que era uma criatura completamente indomável. Amava a liberdade, não aceitava regras predeterminadas.

Como muitos outros bipolares que não tiveram acesso aos tratamentos modernos, Beethoven bebia demais. Era uma forma de esquecer a surdez, ou de tentar driblar as depressões. Morreu intoxicado. Depois de ler as suas cartas, da autópsia e da análise do seu cabelo, o Dr. François Mai, do Chicago's McCrone Research Institute, descobriu que a surdez era apenas um dos sintomas do compositor, que incluia doenças gastrointestinais, problemas com os olhos e com a respiração, além dos seus transtornos mentais.

Nada disso, entretanto, impediu a sua genialidade. Se você duvida, ponha para tocar a Nona Sinfonia e sinta do que um bipolar é capaz.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

MANIA 2

Houve uma fase em minha vida em que eu estava quebrado, quebrado. Morava num apartamento maravilhoso no Alto Leblon e sentia que ia ter que mudar. Mas ainda não estava decidido, eu ainda nutria esperanças de novos ganhos, novos negócios, alguma salvação.

Foi quando comecei a deixar o agnosticismo, precisava procurar algum apoio espiritual. Eu falava com médiuns, me davam passes espíritas, eu lia Kardec, obras de teosofia, procurava entender o budismo, enfim, a busca era grande, mas não passava do racional. Sentir mesmo, como deveria sentir, eu não sentia.

Viaja pra cá, viaja pra lá, tenta um negócio aqui, tenta outro lá, a maré tá ruim, nada dá certo, fica longe da família, tenta rezar, esquece de tomar o remédio - precisa mais? Lá vem mais um episódio de euforia.

Domingo, duas horas da manhã, eu acordo a minha mulher.
__ Dôia, olha aquela luzinha ali pela persiana.
__ O que é que tem, Marcelo? Deixa eu dormir.
É meu anjo da guarda, Dôia. Ele veio falar comigo.
__ Não tem nada aí, querido. É só a persiana que ficou meio aberta.
__ Não é não, Dôia. É a luz dele. Ele tem uma estrela na testa.
__ Ai meu Deus, vai começar tudo de novo!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MEU NAMORO DE VERDADE

Eu tinha 21 anos, um automóvel Fissore e uma pá de hormônios pra consumir. Vivia na farra, gastando todo o dinheiro que sobrava do salário. Morava com meus pais, então só tinha que guardar para a prestação do carro.

Imagine: eu chegava de uma noitada pela manhã quando ela passou indo pra missa. Saltei do carro mais que depressa. Precisava examinar o material.
__ Que gata!
Por ouvir falar, já sabia quem era. Só que ainda não tinha visto de perto. Ela era irmã de uma amiga da minha irmã. Mais tarde, aproveitei uma visita da "cunhada" e mandei o recado:
__ Sua irmã é maravilhosa, hein?!
O recado viajou com precisão. No dia seguinte, quando abri o portão da garagem para tirar o carro e ir para o trabalho, bem em frente à casa dela, a musa apareceu, abriu um sorriso lindo e ficou me esperando completar a operação. Saí dirigindo devagar, quase quebrei o pescoço, quase entrei com o carro no poste. Naquele tempo, para economizar, os mineiros fincavam os postes no meio da rua.

Daí, só faltava vencer a timidez. Flertar era uma coisa, conversar era outra. Todo atrapalhado, criei coragem pra pegar naquele troço meio estranho chamado telefone e consegui soltar um "você quer ir ao cinema amanhã?" Ela topou. Mas os pais mandaram o irmão junto. Por sorte, o cinema estava lotado e ele teve que sentar lá longe. Durante a sessão, segurei sua mão e beijei-lhe o rosto. Só isso. Mas valeu por tudo.

Depois eu conto mais. Só vou antecipar o seguinte: 3 anos depois, aos 24 anos, tive a primeira grande crise de depressão. Já estava casado. Se não fosse a companheira que eu ganhei, sei não...

domingo, 29 de agosto de 2010

MANIA 1

Eu tinha um amigo em Nova York que admirava muito. Owen Ryan era o nome dele. Inteligente, criativo, e não fazia por menos.
__ I'm a creative person, ele repetia sempre.
Sua agência de publicidade tinha como slogan "an imagination agency".
Nada mais apropriado para exercitar a minha própria imaginação. Diga-se de passagem, eu tinha registrado a marca do cometa Halley no Brasil e nos Estados Unidos, tinha sido uma grande sacada, mas o cometa veio fraquinho, fraquinho e eu fiquei numa frustração de dar dó. Ainda assim, eu também me considerava um gênio, só que não dizia pra todo mundo, como ele.

Mas buscava, obsessivamente, uma nova idéia que me desse a riqueza e a fama que o cometa me recusou.Num período de negligência ao lítio, a cabeça se agitou mais do que devia e eis que de repente, não mais que de repente, comecei a rabiscar uns esquemas que deveriam funcionar como propostas mais que vencedoras para campanhas políticas. Naquela altura, eu já estava elegendo o presidente dos Estados Unidos...

Eu rabiscava uma folha e mandava um fax pra ele. Rabiscava outra e passava outro fax. Faxes e mais faxes, brigando com a minha mulher a cada nova ligação.
__ Você não está entendendo! Isto aqui é único, é genial!
__ Mas o que significa isso? Não tem pé nem cabeça. Você não está bem, Marcelo!
__ Você é que não entende nada que eu faço. O Owen vai entender.
24 horas depois ele ligou lá pra casa, mas não para falar comigo. Chamou a minha mulher, que mal falava inglês. De alguma forma ela entendeu que ele também achou tudo aquilo uma loucura.

E coube a mim ter uma conversinha com o meu psiquiatra...

sábado, 28 de agosto de 2010

OS GAYS E EU

Este post é muito mais um pedido de perdão pelos meus preconceitos. Entretanto, há sempre uma ou mais razões para as nossas posturas. Neste caso, explicam, mas não justificam.

Em primeiro lugar, eu fui criado numa sociedade de machos, numa família de machos. Belo Horizonte, os primeiros 10 anos de 1948 a 58. Pai, avós, tios - todos machões. Aliás, nem era preciso insistir muito naquela macheza toda, pois a sociedade já era assim. Não me lembro de ter conhecido nenhum gay até fazer o ginásio - assim mesmo os poucos que existiam não se declaravam.

Mas acontecia uma coisa deplorável. Meu pai trabalhava na RKO Radio Films e, por isso, eu não pagava ingressos nos cinemas. Quase toda tarde eu ia ao cinema. Me lembro que a minha mesada se limitava ao preço das passagens de bonde para ir ao cinema. De vez em quando eu driblava o cobrador e sobrava pra pipoca. Mas isso é uma outra história. O que importa agora é contar que, no escuro do cinema, de vez em quando vinham uns caras de terno lançar a mão sobre a minha bargilha. Eu tinha horror daqueles caras, me levantava correndo pra sentar em outro lugar. E às vezes eles vinham atrás, eu tinha que correr de novo, pois não tinha coragem de fazer um escândalo.

Muitos anos mais tarde, fui trabalhar em agências de publicidade que empregavam vários gays. Eram caras notáveis, inteligentes, criativos e geralmente muito divertidos. Não posso dizer que perdi os preconceitos. Quando algum deles comete algum deslize, fico achando que são todos assim. Mas não são. E eu convivo, procuro ser simpático, mas ainda está faltando humanidade.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A CAPACIDADE E O MEDO

Era um belo domingo de sol, estávamos no saveiro "Maria Candelária", de propriedade da Souza Cruz, em festa de despedida de um de nossos colegas.

Assim que saímos da baía de Botafogo, no Rio de Janeiro, mareei. E segui enjoado até o ponto em que o Saveiro ancorou, próximo a uma ilhota, ali pelos lados de Itaipuaçu. Pensei comigo: eu nado até a ilha, quando voltar tô curado. Tbum!

A ilha só tinha uma entrada pela areia, o resto era pedra. Quando eu estava chegando, bateu medo de afogar, faltou fôlego, subi pela pedra mesmo, me lanhando todo naqueles mariscos. E fiquei feito um bobo, sentado na pedra, sem coragem de nadar para voltar, sem coragem de pedir ajuda. Quando, finalmente, venci parcialmente o medo, consegui raciocinar melhor e fui capaz de nadar até o barco sem mais problemas.

Estando lá, nosso diretor serviu feijoada com caipirinha. Eu não estava mais enjoado, me servi à vontade, mas nem vou falar no que aconteceu na volta, pois essa foi uma outra história. A história da imprevidência...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

É TUDO VERDADE

Antes de entrar no post de hoje, gostaria de responder a alguns leitores que me questionam: aqui ou no meu livro, todas as histórias que eu conto são verdadeiras. Posso trocar nomes ou lugares, mas as situações aconteceram de fato e vocês podem fazer seus comentários pensando nisso. Não são situações hipotéticas.

Hoje eu vou falar sobre um padre, durante uma cerimônia de casamento. Procurando argumentar sobre a busca da felicidade na vida em comum, ele afirmou: "ninguém nasce virtuoso, a virtude deve ser cultivada". Fiquei pensando nos meus netos. Um deles certo dia me saiu com a seguinte pérola:
__ Eu não gosto de jogar futebol porque eu não quero tomar a bola do meu amigo.
Por extensão, ele também não gostava de lutar judô, enfim, parecia que ele só queria fazer o bem. Mas na hora de brigar para tomar os brinquedos das mãos dos irmãos, ele não era tão bonzinho assim.

Na vida, alternamos condições emocionais muitas vezes opostas. Então, vale lembrar Pierre Lévy: a educação e a cultura nos tornam mais humanos. Penso que é isso mesmo. O aprimoramento vem de todas as formas de educação que pudermos ter, na escola ou na vida, e da nossa vontade de auto conhecimento e aprimoramento.

Estou muito longe de ser virtuoso, mas depois de 62 anos de vida, posso testemunhar que o desejo de me conhecer melhor ajudou muito para que aquelas pílulas de carbonato de lítio fizessem o efeito desejado.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A PRESSA

Uma das palavras que mais se ouve hoje em dia é estresse. E o estresse é crítico para nós, bipolares.

Administrar as pressões da vida é uma das formas de evitar o estresse e saber avaliar o sentido da urgência é fundamental. Afinal, quando o telefone toca, devo correr para atender, ou andar normalmente? Quando toca o celular, ou quando chega um e-mail, a resposta precisa ser agora ou posso deixar para depois? Até que ponto as urgências dos outros devem se transformar em urgências para mim? O simples fato de questionar já transforma muitas ansiedades em calmarias.

Vejamos um exemplo:
Estamos falando da filial Curitiba de uma empresa multinacional sediada no Rio de Janeiro. Naquele tempo não havia celular, nem fax, nem telex, nem computador, muito menos e-mail. Apesar de todas essas carências, os negócios funcionavam normalmente. Não eram tão competitivos como hoje mas, afinal, quem é que precisa de competição? Eu prefiro cooperação, e você? Bem, havia o telefone fixo, mas era caro. Então, a comunicação entre matriz e filial se fazia preferencialmente por malote. E quando chegava o malote na sexta feira, o gerente de Curitiba raciocinava: se não telefonaram, é porque não é urgente. Eu só vou abrir esse malote na segunda. Pode ser que venha alguma carta desagradável, não vou deixar esses caras estragarem o meu final de semana...

Você teria essa calma toda?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O BIPOLAR QUE ABOLIU A ESCRAVIDÃO

Segundo o historiador Jan Jacobi, Abraham Lincoln foi o homem mais inexperiente da história eleito para um alto cargo. Chegou a ser chamado de gorila. Enfrentou uma longa e sangrenta guerra que ceifou mais de 600 mil vidas. Enfrentando sucessivos desastres militares até chegar à vitória, passava a maior parte da noite lendo livros sobre estratégia, até porque não conseguia dormir de jeito nenhum. Seu filho favorito morreu, em seguida sua mulher o abandonou. Lincoln sofria ataques de depressão desde muito jovem e ficava gripado metade do tempo. O historiador pergunta: sem Deepak Chopra ou Prozac para ajudá-lo, como Lincoln conseguiu ir em frente?

Em contraposição às suas depressões, ele ria. Ria muito. Dizia-se que tinha a barriga típica dos que ficam gargalhando. Em contraposição ao seu transtorno bipolar, ele teve a visão de uma América democrática, a energia para vencer seus opositores e a sabedoria dos líderes que sabem compreender o seu povo: "Ninguém consegue triunfar se a opinião pública está em seu desfavor. Com a opinião pública ao seu lado, ninguém será derrotado."

sábado, 14 de agosto de 2010

PREVIDÊNCIA SIM, MEDO NÃO

Certa vez fomos visitar minha irmã, que morava em Angra dos Reis. Os dias estavam lindos, exigindo um passeio de barco por aquele mar paradisíaco.
__ É muita gente, Bete, vê se não aluga um barco muito pequeno.
Foi o mesmo que não dizer nada. Chegamos ao ancoradouro para descobrir que nossas econômicas mulheres tinham alugado uma traineirinha.
__ Tá bom, então vamos.
O passeio ia até a ilha da Gibóia, com 4 adultos, mais a minha mãe, que já estava idosa, e 4 crianças. Contando com o barqueiro, 10 almas naquele barquinho de merda.

O mar por ali é razoavelmente abrigado, a ida foi ótima. Mas a volta... O barqueiro avisou.
__ Seu Marcelo, melhor a gente ir-se embora, que o tempo vai virar.
__ A gente está acabando de almoçar, logo logo vem a conta. Guenta a mão mais um pouquinho.

E ainda tínhamos que matar umas caipirinhas, certo?
Completamente errado. Quando finalmente embarcamos o sudoeste já estava nos nossos calcanhares. E a traineira fazendo o que podia, com o seu motorzinho a diesel: pô pô pô pô pô... Os vagalhões nos jogavam pra lá e pra cá, a água passava por cima das nossas cabeças. O barco era tão pequeno que eu firmava os pés numa lateral e as costas na outra para poder segurar uma criança de cada lado. Minha irmã fazia o mesmo, minha mãe se agarrava como podia, e o barqueiro tentava segurar o leme com cara de caganeira. Eu só pensava o seguinte:
__ Se virar, morremos todos.
E o meu cunhado, onde estava? Deitado de bruços no chão do barco. Anos mais tarde, coitado, se suicidou, não sei bem qual era o problema da cabeça dele.
Naquele dia, foi como diz o ditado:
"Entre mortos e feridos, salvaram-se todos." Mas a imprevidência poderia ter custado caro.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

INICIATIVA E AUTO CONFIANÇA

Pelo celular:
__ Pai, eles estão jogando pedras na gente. Tem um cara com um pedaço de ferro, já machucou o meu amigo.
__ O que foi, meu filho, o que está acontecendo, onde você está?
__ Numa festa, aqui perto do colégio, pai.
__ Sai daí correndo, pega um ônibus, um taxi, qualquer coisa.

Eram duas horas da madrugada, o garoto tinha ido a uma festa numa região razoavelmente perigosa do Rio de Janeiro, ele e os colegas não devem ter agradado os locais e deu no que deu. Por sorte só um deles sofreu um ferimento leve, conseguiram fugir.

E eu fico me questionando: com aquele telefonema, de um lugar não perfeitamente conhecido e distante, às duas horas da manhã, o que ele esperava que o pai fizesse?

Na minha juventude não havia celular nem orelhão. A gente saía à noite e, quando surgia uma briga, resolvia da melhor maneira nossos próprios problemas. Desenvolvíamos iniciativa, auto confiança e auto suficiência, algumas características que os bipolares costumam ter e que muitos outros também têm.

Será que os celulares estão reduzindo a nossa capacidade de fazer por nós mesmos?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

QUEM SOMOS NÓS?

Vocês sabem que eu não sou médico. Sou apenas um bipolar (ou seria tripolar?) idoso. Pois bem, analisando o tráfego deste blog, verifiquei que os posts mais visitados são os que procuram explicar a bipolaridade em seus extremos. Em segundo lugar estão as histórias de um bipolar estável, pelo menos aparentemente.

Eu penso que os leitores também têm muitas histórias de vida, envolvendo os seus transtornos de humor, que podem ser contadas aqui. Então, convido para que escrevam mais. A gente pode comentar e comparar as situações de uns com os outros. A razão de tudo isso é que quanto mais a gente se conhece, melhor lidamos com os nossos problemas.

E quanto mais nos conhecem, menos preconceito têm.

Vocês topam? Aguardo contribuições.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O PERDÃO ALIVIA O CORAÇÃO

O último capítulo do meu livro é Jogo Roubado. Foi um baita cano que eu levei no Bingo Star, a primeira casa que foi inaugurada em Belo Horizonte quando foi aprovada a Lei Zico. Fui sócio desde o primeiro contato com os sócios, o bingo funcionava dentro da lei e rendia um bom dinheiro. Mas o profissional que deixei lá para cuidar dos meus interesses se juntou a um sócio desonesto e acabaram por me tomar o negócio.

Acumulei muito ódio nessa história, por muito tempo. E o depoimento que eu quero dar é o seguinte: o tempo passou e me ajudou a exercitar um "deixa pra lá". Do tal profissional, que era meu amigo, a quem eu admirava muito, só lembro dos tempos bons - ele era alegre, espirituoso, uma ótima companhia. Do tal sócio desonesto não tenho boas lembranças, em nenhum momento ele fez por merecer, mas deixa pra lá.

Meu coração está mais leve assim.

domingo, 8 de agosto de 2010

A BUROCRACIA ME IRRITA BASTANTE

Eu tenho horror a burocracia. Tenho mais horror ainda quando desconfiam da minha honestidade de propósitos e passam a me criar dificuldades. E sacaneio, literalmente, as informações desses formulários imbecis sempre que posso. Dois casos rápidos:

1. Eu tinha 16 anos de FGTS. Como nunca tinha sido demitido e não havia comprado casa própria, o fundo estava lá, intacto. Mas eu tinha aberto empresa para explorar o marketing do cometa Halley, o que me dava o direito de sacar o fundo de garantia para capitalizar o investimento. Depois de várias visitas à repartição, filas entediantes, exigências continuadas, documentos e formulários um atrás do outro, me apareceu um servidor para duvidar que a minha empresa existisse. O transtorno apareceu de imediato: aprontei uma gritaria dos diabos, dei soco em cima do balcão, abriu-se uma porta para desvendar o "chefe", continuei gritanto, resolvi o problema. Interessante: já li nas páginas amarelas de Veja que para conseguir a paz é preciso forçar a guerra.

2. Ainda não era tempo desses crachás eletrônicos de hoje em dia, fotografias e tudo mais. A gente ia visitar os escritórios da Supervia, no Rio de Janeiro, e encontrava uma pobre coitada na roleta de entrada de uma plataforma da antiga Central do Brasil com um formulário e uma prancheta na mão:
- seu nome / endereço / telefone / RG / CPF / nome da empresa / etc. / etc. - demorava uma eternidade preencher aquelas linhas todas. A mesma coisa que nos hotéis hoje em dia. O formulário é enorme mas, quando conferem, é só o RG. Estão interessados mesmo é no cartão de crédito. Então, eu brinco: de vez em quanto resolvo morar num lugar diferente, mudo de telefone, escrevo um número qualquer de CPF, só pra ver se alguém reclama. E na internet, já reparou? "O formulário não pode ser enviado. Favor preencher o campo x". Experimente colocar nonono no campo x. Se o sistema não estiver preparado para checar, passa. A julgar pelo tempo que eu faço isso, acho que os burocratas só querem mesmo encher o nosso saco.

Para mim, a moral dessas histórias é a seguinte:
a)- não deveriam pedir informações que não são relevantes;
b)- deveriam partir do princípio de que cidadãos são confiáveis, e não o contrário.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

RACIOCINO MELHOR COM UM CHOPP

Não esqueço de quando viajei com o meu amigo Edimarcos de Belo Horizonte até o Rio para passar uns feriados. Eu devia ter uns 19 anos, ele já tinha chegado aos 30, era advogado e tudo mais. Mas, apesar da diferença de idade, a gente se dava muito bem. Nós fomos num Fusca novinho em folha, que ele tinha levado para emplacar em Contagem, onde as taxas eram mais baratas. Só que o município estava com falta de placas e lhe deram uma licença de parabrisa. Demos carona para duas amigas, as irmãs Borges, e viajamos no maior contentamento.

Você pode imaginar quanto tempo durava uma viagem de Belo Horizonte ao Rio, na década de 60, de Fusca 1200? Saímos de manhã cedo, chegamos à noite. Primeira tarefa: levar as irmãs Borges a Jacarepaguá. Erra caminho daqui, erra dali, entregamos as moçoilas por volta da meia noite. Próxima etapa: chegar a Copacabana, onde deveríamos ficar hospedados. Erra daqui, erra dali, começamos tudo de novo, indo até a o centro para pegar o aterro do Flamengo. E, então, o inesperado aconteceu: uma viatura encarregada de furtos e roubos de veículos nos interceptou ali na altura da Cinelândia, não quis ouvir conversa e nos levou para uma delegacia caindo aos pedaços na velha Lapa. O Edimarcos sacou da carteira da OAB, o cidadão do outro lado, que nem delegado era, fez uma cara de desconfiança e a conversa parecia não ter fim. Meu amigo e advogado argumentou que a lei do trânsito era federal, não havia como o Rio recusar uma licença de parabrisa emitida em Minas. O cara começou a ficar embasbacado e, no frigir dos ovos, não sabia se prendia a gente e depois ia ter que pagar o nosso hotel, ou se soltava e o delegado lhe comia o traseiro no dia seguinte. No final, fez a gente assinar um papel que não valia absolutamente nada e nos liberou com carro e tudo.

Ufa! Chegamos a Copacabana. Supostamente, um confortável apartamento na Rua República do Peru nos esperava de camas abertas. Só que eram mais de 4 da madrugada e quedê o porteiro pra gente entrar? Não tinha porteiro, tudo trancado.
__ E agora, Edimarcos, o que vamos fazer?
__ Olha, Marcelo. Tem um boteco aberto ali na esquina. Eu raciocino bem melhor com um chopp.

Aprendi essa importante lição naquela viagem. Também raciocino muito melhor com um chopp. É uma pausa para o bem estar, né não? Na hora do almoço, então, ajuda a quebrar um pouco o estresse do dia, facilita a camaradagem com os colegas, ajuda até a encontrar a alegria.

Mas tem o seguinte: eu raciocino muito pior de 3 chopps para cima. Posso ficar nervoso, não dar mais razão a ninguém, uma danação.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A RATINHA NÃO É BIPOLAR

Eu já falei por aqui na Juju, minha filha mais velha, que é bipolar. Fala alto, é alegre, espirituosa, criativa (trabalha como graphic designer nos Estados Unidos), bastante inteligente. Por outro lado, não aceita regras rígidas, é contestadora, mandona - seu marido sofre um bocado! E, quando não fazia o tratamento certo, virava e mexia tinha uma depressão. Outras vezes se iludia com as próprias idéias, achando que ia ganhar o mundo... Tem 38 anos e ainda passa por esse perigo.

A Ratinha (Renatinha para os íntimos) nós adotamos quando criança. Fala alto, é alegre, espirituosa e bastante inteligente. Ainda não sei se é criativa como a irmã - já fez um curso de Chefe de Cozinha e agora estuda Nutrição. Também não aceita regras rígidas, é contestadora, mandona - seu namorado sofre um bocado! Tem dias em que acorda num mau humor dos diabos, mas não chega a ser depressão. E não se ilude com as próprias idéias, mas tem um sentimento de que o mundo já está ganho, talvez por ser muito jovem (21).

Uma é bipolar, a outra não. Mas como são parecidas!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O TRIPOLAR CAUSOU POLÊMICA

Uma leitora criticou meu livro, afirmando que as crônicas eram de um publicitário e não de um bipolar. Então, postei um esclarecimento, onde colocava a possibilidade de sermos tripolares, em linguagem leiga: deprimidos, eufóricos, estáveis.. Alguns seguidores se manifestaram e eu gostaria de oferecer mais algum material para a nossa reflexão.

Vamos começar por uma afirmação do psiquiatra Elcio Carvalho Junior: "a bipolaridade influencia a personalidade". Como eu procurei dizer antes, medicados ou não, o grupo dos bipolares pode apresentar características semelhantes. E elas se alteram quando sofremos transtornos de humor.

Vejamos o que diz o Dr. Diogo Lara, em "Temperamento forte e bipolaridade" (Ed. Saraiva):
quando estável, o bipolar pode ser criativo, original, ousado. Mas, se entrar em crise, pode quebrar regras desnecessariamente e passar a inconsequente. Sua grande energia, que é benéfica, pode entrar em descompasso, gerando isolamento, impaciência, até cargas explosivas. Sua sinceridade e autoconfiança podem caminhar para a arrogância, sua competitividade pode se tornar desleal. A liderança se transforma em autoritarismo, a busca de novidades e sensações pode levar ao abuso de drogas, a iniciativa vira impulsividade, e assim por diante.

Em suma, nenhum bipolar deixa de ser bipolar só porque tomou lítio pela manhã e à tarde. A personalidade, que é exclusiva de cada um de nós, se desenvolve devido a n fatores e é influenciada pela bipolaridade, mesmo quando estamos estáveis. O que muda nas crises é o estado de humor. E o que o meu livro procura mostrar é que um sujeito bipolar pode levar uma vida normal, agradável e divertida, e se aproveitar das suas características positivas para tentar o sucesso, não apenas material. Então, quando falo de mim, todas as crônicas são de uma personalidade influenciada pela bipolaridade, mesmo que eu não estivesse em transtorno.

A pergunta continua: fiz porque era bipolar, ou qualquer um faria? Acredito que qualquer um, bipolar ou não, tem potencial para fazer, mas no meu caso foram certas características bipolares que me levaram a fazer.

domingo, 1 de agosto de 2010

MINHA FILHA É BIPOLAR

A Juju é uma dessas filhas que a gente adora, mas tinha horas que dava vontade de esganar. Quando era pequena, falava alto, contestava tudo, brigava com as irmãs, um terror. Me lembro que um dia, caminhando com mamãe, ela passou dos limites da mal criação.
__ Não trata sua vó desse jeito!
Dei-lhe uma porrada de cima pra baixo, pegou no ombro e ela quase caiu num bueiro que estava com a tampa quebrada. Se existisse essa tal lei da palmada eu estaria no xilindró.

Na adolescência ela não queria estudar. Você sabe, bipolar não gosta de burocracia nem de sistemas rígidos. E ela não aceitava fazer o que não gostava. Acabou arranjando um namorado em Búzios, encheu o saco pra que ele fosse trabalhar nos Estados Unidos, depois encheu o meu pra arranjar o dinheiro pra ela ir também - isso foi há 21 anos atrás. A Ju tinha 17 (imagine a crise dentro de casa!), mas está lá até hoje casada com o mesmo namorado.

Até fazerem suas vidas, eles comeram o pão que o diabo amassou com o rabo, mas acho que o ponto de ruptura foi o terremoto de Los Angeles. Dois dias depois ela me ligou e ainda chorava aterrorizada. Nunca ouvi alguém chorar daquela maneira. Mudou-se para Phoenix e, pelo menos na minha lembrança, foi a partir daí que ela começou a reclamar de depressões. O pior é que não conseguia achar um médico que se envolvesse o necessário para lhe dar um tratamento adequado. Passavam uns remedinhos e a situação continuava. Foi preciso encontrar um psiquiatra indiano em Phoenix para ter um diagnóstico preciso: bipolar.

A Juju se trata regularmente e tem uma vida normal, é muito alegre e espirituosa, embora o temperamento continue forte - uma vantagem para quem quer vencer na vida. Ela é um dos meus grandes orgulhos, principalmente porque trabalha na mesma profissão que eu, criou a capa do meu livro, o design deste blog e está sempre pronta a se juntar com o pai num desses novos empreendimentos que a gente inventa...

sábado, 31 de julho de 2010

TURRÃO OU PERSEVERANTE?

Pode ser também senso de justiça. Quem julga é você.

Certa vez entrei numa agência do Unibanco, que se dizia 30 horas mas, definitivamente, não dispunha de segurança para prestar os serviços que anunciava. Era sábado à tarde, nenhum funcionário presente, a máquina do Banco "roubou" meu cartão e o telefone estava quebrado. Resultado: houve uma fraude de R$6.200,00 na minha conta, o Banco não assumiu o prejuízo, cortou meu cheque especial, me fez assinar uma confissão de dívida para não levar meu nome ao Serasa, depois levou, fiquei sem crédito, sem cheque, sem nada.

Estou contando assim depressa porque me ensinaram que os textos devem ser pequenos na internet. Mas essa brincadeira durou anos e, de apelação em apelação, os advogados do Banco foram atrasando o meu. Certo dia surgiu a possibilidade de um acordo. Fui lá. O cara fez uma proposta indecente, confiando que eu não ia aguentar a espera. Respondi seco e grosso:
__ Daqui a 10 anos ainda estarei vivo.

Não chegou a tanto. Nove anos e alguns meses depois recebi na justiça por volta de 125 mil reais. Cobrando juros dos seus clientes nos cheques especiais, o Banco possivelmente ganhou até mais, em cima do meu dinheiro perdido inicialmente. Mas, para mim, foi uma vitória. Pelo valor que recebi e pelo gostinho de saber que aquele gigante me assinou um cheque.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

UBUNTU

Eu aprendi esta palavra num filme muito bonito sobre a África do Sul. Ubuntu traz o conceito de que "eu sou quem eu sou por causa de quem todos nós somos". Mandela ensinava mais: fazemos parte um do outro; quando alguém fere a mim, fere também você, fere todos neste mundo e também ele próprio; nós não estamos sozinhos neste mundo.

Foi com esses princípios na mente e no coração que os negros perdoaram os horrores que sofreram dos "africaners": "fale-me porque fez isto para eu poder perdoá-lo", eles pediam. A verdade libertava e os criminosos eram absolvidos.

Será que essa palavra - Ubuntu - tem a ver com a cultura brasileira? Vamos pensar naqueles que foram roubados no útero. Roubaram o esparadrapo do hospital, os remédios, as vitaminas do pré-natal; depois roubaram a merenda escolar, pagaram aos pais deles salários que não davam para os cadernos, muito menos para os livros. E quando eles cairam no mundo, ouviram bem alto: "aprendam a pescar", mas nem ao menos lhes disseram onde ficava o rio.

E essa legião de roubados no útero conseguiu produzir muitos cidadãos que, pasmem todos, não são criminosos. Lutam pela vida, querem dar aos filhos o que não tiveram e abaixam a cabeça quando são discriminados, em concordância: "eu perdoo os que me roubaram porque é assim mesmo - eles receberam ordens do seu ambiente cultural". O perdão liberta e os injustiçados seguem em paz...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

SOMOS TRIPOLARES?

Uma leitora escreveu reclamando que o meu livro tinha pouca coisa de bipolar, eram mais crônicas de um publicitário. Imagino que, no entendimento de muita gente, o bipolar ou está deprimido ou está eufórico, e só isso interessa saber.

Engano. Raciocine comigo: se um sujeito é míope, ele coloca os óculos apropriados e passa a enxergar muito bem, certo? Mas ele não deixa de ser míope. Conosco é a mesma coisa: fazemos o tratamento mais adequado e o nosso comportamento passa a ser normal. Mas não deixamos de ser bipolares, com vários traços bem marcantes de personalidade.

Então, poderíamos dizer, como leigos, que somos tripolares: deprimidos, eufóricos ou estáveis. Quando estáveis produzimos muito bem, vivemos normalmente em sociedade, em família ou no trabalho. É isso que o livro mostra. Todas as crônicas são de um bipolar. Ou tripolar, como queiram.

OBS: a leitora também disse que eu estava usando de uma doença incurável para ganhar dinheiro. Em primeiro lugar, não é uma doença, é um transtorno de humor. Em segundo lugar, não vivo de vender livros e este blog pode ser lido por todos, sem qualquer pagamento.

terça-feira, 27 de julho de 2010

PERGUNTAS QUE SEMPRE FAZEM (11)

__ Após todos esses anos convivendo com o transtorno bipolar, o que você aprendeu?

Aprendi a controlar algumas características ruins da minha personalidade. Por exemplo: achar que eu era muito inteligente, que sabia mais que os outros, que deveria fazer valer os meus pontos de vista. Acho que melhorei muito nesse ponto, mas ainda há muito que melhorar. O principal é saber ouvir, buscar compreender a razão dos outros. Quando a gente percebe que as nossas idéias não são únicas, muito menos as melhores, passa a conviver muito mais facilmente. E a compreensão também inibe uma certa propensão para a violência, mesmo que verbal.

Outro fator importante é o ilusionismo. Apesar de controlado pelos medicamentos, eu posso ser propenso a me iludir com as próprias idéias, ou com as minhas possibilidades de sucesso futuro. Tanto pelo exercício mental, como pelas porradas da vida (estou com 62 anos), aprendi muito nesse aspecto. Estou bem mais racional.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

ESPIRITUALIDADE TAMBÉM AJUDA

Eu digo no meu livro que não sei rezar. Não consigo compreender a lógica das divindades, assim como nos explicam as religiões, portanto não consigo sentir Deus. Mas acho que tantos povos já experimentaram as mais diversas manifestações espirituais, que Ele deve existir mesmo. Não sei como, mas deve.

Também acredito que as religiões, enquanto puras, sejam benéficas para todos nós. Eu fui criado na religião católica e, por influência do filósofo Bertrand Russel, me tornei agnóstico ainda adolescente. Mas voltei a buscar apoio espiritual na fase adulta, principalmente em virtude de algumas crises financeiras. Dá um nó no estômago ir pra cama sem saber como ganhar o pão do dia seguinte.

Numa dessas buscas, veio a idéia: por que Jesus jamais é retratado sorrindo, você sabe? Ou Ele está sofrendo, ou com a fisionomia grave, ou plácido. Em raríssimas vezes, um desenho sugere um ligeiro sorriso. E como deveria ser o mundo para que Jesus abrisse o seu sorriso? Como nós deveríamos agir para que Ele sorrisse largamente. Pensando nisso, eu e os amigos de sempre - Luiz Aguiar, Azambuja e Tavito - criamos um projeto chamado O Sorriso de Jesus. Previmos episódios de TV, histórias em quadrinhos, CDs e um monte de produtos. Mas tudo deveria começar com uma missa, musicada do início ao fim, bem alegre, como nunca se fez.

A idéia andava bem em certos setores da PUC-RJ. O pároco e teólogo de lá estava entusiasmadíssimo (para quem ainda não sabe, essa palavra significa "com Deus dentro de si"). Mas como me disseram depois, "esbarramos nos capuchinhos". Por que será que eles não querem sorrir durante as suas orações?

Se as missas fossem mais alegres, tivessem mais apelo para o nosso tempo, talvez eu voltasse. E talvez sentisse.