domingo, 30 de janeiro de 2011

ABSOLVIÇÃO

__ Mas e então, Marcelo, como é que você me diz que tem 39 anos de casado, construiu uma relação duradoura, foi conquistado pela sua mulher quando ainda tinha 21 anos, e agora me vem com essa de jogar olhar de testosterona numa moça que podia ser sua filha?

__ Escuta, e com todos esses apelos que existem por aí, você queria que eu tivesse um pensamento santificado?

Esses dilemas morais existem aos milhões na cabeça de um mundo de gente. E quem nos tira um pouco do peso da consciência é o rabino Nilton Bonder. Veja o que ele escreveu em “A alma imoral” (Ed. Rocco): “um corpo com moral cria um mundo de roupas que veste o nu... O ser humano nu... sabe que, independente do ato concreto da procriação, o cotejar e a sedução nos impregnam do gosto da vida. Sabe que uma boa velhice é aquela que vive dos louros da vida não desperdiçada. Sabe que a frustração e a depressão são sub-produtos do não cumprimento desses desígnios na medida adequada.”

Só tenho dúvidas sobre qual deva ser esta “medida adequada”, mas vamos em frente.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

EU E OS HORMÔNIOS

Naquele seriado House a gente aprende que, quando o assunto é delicado, o paciente mente. E este assunto é delicadíssimo, mas vou tentar ser verdadeiro.

É o seguinte: quando eu era mais jovem, tinha os hormônios à flor da pele. Quando fiz meu exame de esperma no pré-nupcial, o médico até exclamou: "Pôxa!" Mas, com a idade, naturalmente a taxa de testosterona vai baixando, e com ela cai a libido, a densidade mineral óssea, a disposição para o trabalho e para os esportes, outros problemas aparecem: podem favorecer o aumento de gordura e de colesterol... sei lá, um monte de coisas. E tem os efeitos colaterais também. Para nós, bipolares, podem favorecer a depressão. Pelo menos é o que diz a bula do remédio.

Faço o exame de sangue e lá vem o médico:
__ Você vai fazer uma reposição hormonal, vai virar outro.
__ Doutor, esse negócio de aumentar a libido não quero não, só pode me causar problemas.
__ Mas você precisa.

Pois eu digo que não precisa. Vou lhe contar o que aconteceu na semana passada.
__ Entrei no Metrô, estava de pé em frente a uma moça que podia ser minha filha, bem interessante. Daí a pouco já estava olhando pra moça com olhar de testosterona. Sabe o que aconteceu? Ela se levantou e me ofereceu o lugar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

FALANDO SOBRE FELICIDADE (5)

Acho que ninguém tem dúvidas de que o amor é fundamental para se atingir a felicidade, mas não dá para racionalizar o amor. Tem que sentir. É mais ou menos como a fé em Deus, que infelizmente não tenho porque não cheguei ao sentimento. Mas como já senti o amor, desse eu posso falar, pelo menos um pouco.

E chega o dia em que você conhece alguém, tem sorriso, tem simpatia, empatia, pele, tesão – tá tudo certo. A felicidade está ali, naqueles momentos. Dali pra frente, os problemas serão os desejos. Desejos de manter o encantamento, desejos de que não haja perda, desejos para mais, até transbordar, desejos de que a perfeição não se desfaça... Mas perfeição não existe, certo?

Para que a felicidade dure, os dois têm que ceder. Nada de querer moldar o outro, aparar seus possíveis defeitos, elevar suas potencialidades de uma hora pra outra, modificar de repente o ser. Na vida em comum, ceder é a norma. Ceder por respeito à individualidade do outro, ceder para agradar, para não entrar em conflitos desnecessários, para viver bem Se os dois cedem, pode ser até que consigam, pela força do amor, aquilo que desejavam impor antes.

Pensa que acabou, que está tudo resolvido? Infelizmente, não. Vivemos em sociedade. Então, está na hora de sair da cama e encarar o exterior. Estudos, trabalho, família, contas a pagar etc. etc. etc. Tem semanas que os afazeres são tantos que chegam a esfriar o amor. Mas este pode sobreviver a tudo se houver o firme propósito de seguir em frente. É o que eu chamo de construção.

sábado, 15 de janeiro de 2011

FALANDO SOBRE FELICIDADE (4)

A história humana sempre foi movida pela ambição. O ser humano sempre quis progredir e não há nenhum sinal de que isto vá mudar. Agricultura, indústria, tecnologia, inovações proporcionadas pelo conhecimento, milhões de criações intelectuais, propostas políticas – lá vamos todos nós, seguindo a trilha da nossa ambição, não necessariamente em busca do dinheiro, mas pode ser pelo prazer de fazer o bem, pode ser em busca do aplauso, pode ser pelas nossas responsabilidades para com terceiros – não importa. O que importa é que não estamos parados e nada indica que vamos ficar. Nossos desejos podem não ser os mais legítimos, mas ter desejos é legítimo.

Da mesma forma, vamos em frente porque acreditamos que o amanhã poderá ser melhor, o ser humano merece crédito, o futuro merece crédito. Atingir a felicidade não vai ser fácil. Muito menos perene. O próprio desejo de ser feliz cria uma ansiedade para ser feliz. Então, a pergunta correta não é “quem atingirá a felicidade?” Mas “quem será feliz por mais tempo?”

Algumas respostas:

__ Quem souber viver em harmonia com o seu grupo social;

__ Quem não colocar o dinheiro e as compras acima das necessidades para ser aceito no seu próprio grupo;

__ Quem não confundir sucesso financeiro ou profissional com felicidade. Felicidade é um estado de espírito, não é uma fria contagem de vitórias;

__ Quem conseguir o equilíbrio do humor, pois só assim estará em bem estar pessoal e apto a uma melhor convivência.

__ Quem estiver aberto a relacionamentos amorosos que tenham potencial para o prazer e a construção de um futuro saudável. (Hum, esta merece mais um post).

sábado, 8 de janeiro de 2011

FALANDO SOBRE FELICIDADE (3)

Completamente fora dos nossos padrões atuais viviam meus avós paternos. Ele era pintor de paredes, ela era lavadeira. Tinham um filho único, meu pai, mas os tempos eram difíceis até para uma família pequena. Estamos falando dos anos 20, numa vila na periferia de Belo Horizonte. Meu avô tratou de melhorar a subsistência da família construindo, com as próprias mãos, a casa onde moravam, enquanto minha avó plantava todas as mudas de árvores frutíferas que encontrava, além da horta, é claro.

Pela mais absoluta ignorância, meu avô posicionou a família com ambição mínima. Se meu pai havia completado o curso primário, de estudos não precisava mais. Hora de trabalhar. Se ganhava uma roupa nova no dia do aniversário, melhor guardar. Pra que usar uma roupa tão nova? Se cruzava a cidade a pé para levar frutas para os netos e o sol estava muito quente, deitava debaixo de uma árvore, na calçada, ali mesmo estava bom.

Meus avós viviam felizes, com a sua casinha, com as suas plantas e por completa falta de ambição. Não havia a ansiedade do querer mais. Suas preocupações eram com o filho já casado e com os netos, seus únicos temores, pois aqueles estavam desgarrados, eles não podiam controlar.

Até que vovô ficou velho, já não pintava casas, minha avó também não lavava mais roupas para fora, faltou o dinheiro que a aposentadoria não era capaz de suprir. Faltou dinheiro para o básico, a comida, principalmente. Meu pai percebeu e passou a complementar. Mas não foi o suficiente. Meus avós foram vítimas da perda de dignidade, daquele amor próprio de quem fez a vida “sem precisar de ninguém”. E adoeceram.

O que esta história me diz é que, por mais ideal que possa parecer, a felicidade depende de suprir as necessidades básicas do físico e também aquelas do coração: o amor próprio é uma delas.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

LIDANDO COM PERDAS

A primeira grande perda de que eu me lembro foi quando morreu a minha irmãzinha, Margareth. Ela tinha um ano e um mês, era a rapa do tacho lá de casa, teve meningite e se foi. Questão de uma semana de um diagnóstico que nunca vinha. Naquela época, eu devia ter uns 11 ou 12 anos e adorava brincar com ela. Mas quem ficou inconsolável foi a minha mãe. Muitos anos depois, por algum motivo qualquer, ela caiu em prantos.

__ Você pensa que é fácil, meu filho? Eu perdi dois irmãos, ainda pequenos. Perdi Mariquinhas (outra irmã, que morreu de parto), perdi duas filhas, é muito sofrimento...

Muitos anos haviam se passado. Uma das filhas eu nem conheci: nasceu e morreu antes de mim. Eu só tinha conhecido mesmo a Margareth e a tia Mariquinhas. E o tempo se encarregou de levar aquelas memórias da minha cabeça.

Talvez por uma questão de auto defesa, meu pai também não falou mais nada. Sofreu na época, depois parece que se conformou. E se comportou da mesma maneira quando perdeu meus avós.

Eu tenho falado de felicidade por aqui. Acho que tem a ver com a capacidade de perder também. Quem tem predisposição para a felicidade supera melhor os problemas, por maiores que sejam, do que as pessoas que são sofredoras por natureza, como era o caso da minha mãe.

Post danado de ruim este. Para melhorar, leia José Diniz Só (este é o meu pai) em http://www.talentosdamaturidade.com.br/galeria/detalhe/work/11393